Nosso Culto

A forma do culto agradável a Deus é instituído por Ele mesmo nas Escrituras. Aquilo que o homem oferece a Deus no culto de adoração, sem uma prescrição vinda do próprio Deus é uma oferta vã. Isso sempre foi um teste de submissão do povo de Deus às suas ordenanças. Tão importante era este assunto na estimativa de Calvino, que ele chegou a declarar que as duas partes principais da religião cristã são a adoração a Deus pelo modo sancionado em Sua Palavra e a necessidade de buscar justiça fora de nós mesmos, ou seja, em Cristo somente. 


Na forma de culto estabelecida no Novo Testamento, Deus indicou a oração, a leitura das Escrituras, a pregação da Palavra, o cântico da Palavra, o batismo, a Ceia do Senhor, e o Dia do Senhor. Em nossos dias há o temor generalizado de que as poucas e simples ordenanças que Deus instituiu nas Escrituras não sejam suficientes para provocar o avanço do Evangelho. Mas o Senhor enviou seus servos a todo mundo exigindo que deveriam cumprir tudo o que Ele havia ordenado, e o que iria efetivamente garantir a prosperidade dos seus trabalhos seria Sua presença com eles como o Rei exaltado a quem foi dado todo poder no céu e na terra. 

Há ainda uma dimensão a mais para a maior pureza e simplicidade no culto do Novo Testamento, porque as formas de culto do Velho Testamento que prefiguravam a vinda do sacerdócio de Cristo já cessaram. O cenário para o serviço dos sacerdotes levíticos era um santuário terrestre, onde havia uma simulação das realidades do céu. Mas, uma vez que Cristo fez a expiação dos pecados, Ele entrou no próprio céu como nosso precursor ao entrar através do véu no verdadeiro santuário. Somos levados ao Santo dos Santos pelo sangue de Jesus. O culto da Igreja no Novo Testamento é centrado na intercessão sacerdotal de Cristo, que nos dá acesso a Deus e nossos corações estão sendo dirigidos em fé para o santuário celestial como o cerne da nossa adoração, assim como o povo do Velho Testamento orava com o rosto voltado para Jerusalém onde um descendente de Arão se aproximava do trono de misericórdia. 

A adoração no tabernáculo terrestre era um espetáculo pictórico do surgimento antecipado de Cristo no verdadeiro santuário. Hoje, com Cristo como nosso sacerdote, não mais nos relacionamos com Deus por meio de representações sombrias daquilo que agora é real. A glória e a beleza do culto eram dirigidas para as vestes usadas pelos sacerdotes e levitas e para muitas coisas relacionadas ao tabernáculo onde estava o cenário deste ministério. Essa deslumbrante manifestação externa do tabernáculo e do templo, vista nos corais, no incenso ou na gloriosa instrumentação sincronizada com a oferta do sacrifício, foi o símbolo da glória maior de um Sacerdote ainda por vir, cujo ministério teria uma eficácia por eles nunca conhecida. O sacerdócio levítico havia mostrado insuficientemente tudo sobre isso, e suas formas de adoração eram uma lembrança de pecados não retirados, e que o caminho para o santo dos santos ainda não havia sido manifestada. 

A forma de adoração simples do Novo Testamento não é uma diminuição da glória do culto, a menos que esta glória seja medida pelos símbolos externos e não pela eficácia do sacerdócio do Messias. 

Lemos que depois dos detalhes do culto artístico e externo do Velho Testamento, Hebreus 9:8 nos diz que o Espírito Santo estava ensinando por meio das cerimônias veterotestamentárias que o caminho do Santo lugar ainda não havia sido aberto: “querendo com isto dar a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido”. 

Resumindo, o culto do Velho Testamento foi um espetáculo para ilustrar a entrada de Jesus no santuário, no Santo dos Santos celestial. Quando aquilo que foi apontado chegou à sua concretização, então não mais são necessárias as figuras que apontavam para uma realidade que viria. Uma noiva não continua ainda ensaiando o cerimonial do seu casamento depois que ele já aconteceu, porque ela agora já desfruta da realidade do relacionamento matrimonial. A mulher adulta não brinca mais de boneca porque agora ela brinca com um bebê de verdade. Certo reformador do século XVI, na Suíça, disse que as cerimônias do Velho Testamento são comparadas ao ato de acender velas. Durante a madrugada é útil se usar velas, mas quando o sol se levanta e brilha ao meio dia, não vamos apreciar a força e o brilho do sol se continuarmos a usar as velas em um quarto fechado. Quando as pessoas vão à igreja e não estão enxergando nada da glória de Cristo, elas não entendem que Cristo já fez expiação pelos pecados. Da mesma forma elas não irão compreender a simplicidade do culto no Novo Testamento; irão achar que é uma coisa chata e inadequada. Mas o problema é que não têm fé em Cristo; não é possível substituir a fé em Jesus por uma outra coisa. 

Qual o desejo do nosso coração? De coração desejamos o nosso sacerdote — Cristo — que ministra lá no céu. Cada vez que levantamos nossos corações a Ele em nossas orações particulares e na oração congregacional, nossa adoração estará focalizando O Sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Toda nossa adoração e oração gira em torno do sacerdócio do Senhor Jesus Cristo; o que está chamando nossa atenção não é aquilo que está atraindo e agradando nossa percepção sensitiva, mas nossa adoração se firma no que nós proclamamos — Cristo crucificado! Usamos a forma simples de adorar ordenada por Deus no Novo Testamento, pois temos confiança na eficiência e na bênção que existe nas ordenanças de culto que Ele nos prescreveu. Essa confiança se resume no fato de que temos um grande Sacerdote que entrou no céu antes de nós — o Senhor Jesus Cristo. 

Nosso culto é simples.