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domingo, 30 de outubro de 2011
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Salmo 1
Pr. Paulo
Brasil
A ênfase da vida neste milênio
e nessa época de pós-modernidade em que vivemos é o homem em busca de sua
felicidade. A grande ênfase é: se você é feliz, independente do que faz, isto é
o que importa. Se você pratica algum ato contra a Lei de Deus, independente se
é a favor ou contra esta Lei, o crivo da verdade é se você é feliz. A conclusão
é: se for feliz, logo estarei no caminho certo, porque o que importa é a
felicidade.
Obviamente não
encontramos nas Sagradas Escrituras nenhuma afirmação que diga que Deus nos
chamou para sermos felizes. Mas a felicidade está ligada diretamente à obra do
Espírito Santo em nos conduzir à submissão da vontade de Deus. A verdadeira
felicidade é exatamente submeter-se à vontade do Senhor; é negar-se a si mesmo;
é tomar a cruz e seguir a Cristo; é não fazer aquilo que nos agrada, mas aquilo
que agrada a Deus; no padrão bíblico, a verdadeira felicidade é a santidade,
porque encontramos na Bíblia a afirmação de que Deus “...nos escolheu, nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
ele” (Efésios 1:4). Fomos eleitos para sermos santos. Deus disse: “Sede
santos como eu sou santo”. A santidade é exatamente o sinônimo da
felicidade na perspectiva bíblica. A santidade é a anulação da minha própria
vontade e a assimilação da vontade divina. É não satisfazer os meus desejos
pecaminosos, carnais, mas satisfazer a vontade de Deus.
É interessante
notarmos que este salmo começa falando da felicidade em uma perspectiva
negativa: “Bem aventurado o homem...”. A felicidade aqui está restrita
(no primeiro momento do salmo) a uma realidade negativa. Isto é, “feliz (bem
aventurado) é o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não
se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores” (v. 1). O que o salmista está dizendo com toda clareza é
que a verdadeira felicidade está em não satisfazer, em não andar
e não estar de acordo com a vida dos ímpios, mas fazer aquilo que é
contrário às suas práticas mundanas. De forma impressionante este Salmo foi
colocado aqui para ser aquele que encabeça todos os outros 149 salmos.
Não há como provarmos de forma
explícita isso, mas quem compilou os salmos, iluminado e inspirado pelo
Espírito Santo, colocou este como o primeiro deles porque resume exatamente
toda a crise apresentada nos salmos.
Primeiro,
percebemos que muitos salmos que foram escritos, o foram na perspectiva da
angústia do justo em relação à prosperidade dos ímpios. O salmo 73 retrata esta
“crise” quando o salmista diz: “Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os
pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos...ao ver a prosperidade
dos perversos” (Sl 73:2-3). Nos salmos vemos a angústia do justo em fazer a
vontade de Deus, em andar segundo o caminho de Deus, porém, apesar disso não
tem prosperidade nesta vida, não tem o que os ímpios têm. Mas, por não praticar
o que os perversos praticam, obviamente este justo anseia por uma prosperidade
maior, superior. E o Salmo 1 vai dizer que aquele que é justo (v. 3) será bem
sucedido em tudo que fizer. “Tudo quanto ele faz será bem sucedido”.
Este conceito de prosperidade que é colocado aqui na idéia de uma árvore cheia
de frutos que nunca murcha; não está inserida em uma perspectiva humana,
terrena; isso porque nos outros salmos veremos a angústia do próprio salmista
ao dizer: “Os ímpios que não temem e nem amam ao Senhor, prosperam, ganham,
vencem, enquanto eu, Senhor, que procuro fazer a tua vontade, estou passando
por todo este sofrimento”.
Este salmo foi
colocado aqui no início porque ele resume a ansiedade e a angústia daqueles que
temem a Deus e fazem a vontade do Senhor, mas estão diante daqueles que não
temem a Deus e prosperam, não temem a Deus mas têm saúde, têm vida abundante e
aparentemente estão muito bem, enquanto que os justos estão padecendo. O
salmista diz com toda clareza que aquele que teme ao Senhor prosperará, será
bem sucedido, enquanto aquele que não teme a Deus não prosperará. O salmista
coloca isto em relação aos aspectos da vida no momento presente. O conceito de
prosperidade aqui é outro até que o salmista chega no final do salmo e resume
tudo dizendo que haverá um dia de juízo em que aqueles que prevaleceram nesta
vida, que ganharam, que satisfizeram a carne e aparentemente foram felizes; que
andaram segundo a carne e os prazeres mundanos, que fizeram a vontade do
coração e da mente, serão julgados e perecerão. Nos seus caminhos perecerão,
mas quanto aos que temem ao Senhor, o texto diz que os “conhece”:
“O Senhor conhece o caminho dos justos...” (v. 6). O Senhor
escolheu este caminho para os justos, o seu modo de viver; O Senhor escolheu
Seu povo para Si e a Ele pertencem pactualmente.
Perceba que o
Salmo a partir daqui se resume exatamente naquilo que vai ser desenvolvido em
todos os Salmos e a ênfase principal desta prosperidade apresentada (“será bem
sucedido”) está na obediência à Lei do Senhor. Está em uma religião que não é
forjada, realizada ou praticada nos desejos do coração do homem, mas numa
religião que é forjada e praticada na obediência à Lei de Deus; em uma religião
que não procede do coração, mas numa religião que procede da revelação escrita
da Palavra de Deus; numa religião que não procede dos desejos da carne, mas
procede do desejo do Deus Santo e verdadeiro que escreveu a Sua Palavra com o
propósito de que Seu povo caminhasse em obediência a esta Palavra Santa.
Esta
felicidade, esta prosperidade e esta eternidade estão diretamente ligadas à
obediência à Palavra de Deus e à Sua Lei.
O salmo, de
modo claro e objetivo, resume tudo aquilo que vai ser tratado em todos os
demais salmos: a crise do ter, do possuir, do enriquecer nesta vida sendo
ímpio; a crise de poder entender que aqueles que amam a Lei de Deus nem sempre
prosperarão segundo os padrões deste mundo, mas sempre prosperarão os que
viverem segundo os padrões que Deus estabeleceu.
Este salmo
revela também o que vai acontecer no último dia. O Salmo termina de forma clara
revelando o dia do juízo, o último dia, quando o Senhor julgará a todos. Vemos
isso no livro de Malaquias quando os homens dizem a Deus: “Senhor, de que nos
interessa fazer a Tua vontade, porque aqueles que não Te temem estão
prosperando e os que se levantam contra Ti estão sendo vitoriosos nesta vida;
de que me adiantou Senhor?”. Deus, então, responde dizendo: “Eu farei um
memorial naquele dia e mais uma vez vocês saberão a diferença entre aqueles que
me amam e os que não me amam; entre os que me temem e os que não me temem”
(Ml 3:13-18). Haverá um dia em
que Deus fará esta demonstração de forma clara; um dia quando
o Senhor revelar os que são seus, os que lhe obedecem e os que não obedecem; os
que O temem e os que não temem ao Senhor.
A prosperidade
desta vida, o ter nesta vida, em hipótese, alguma é parâmetro para anunciar a
bênção de Deus. Este não é o parâmetro.
Olhando para
este salmo, em uma perspectiva geral, encontramos todas estas verdades. Mas
devemos adentrar ao salmo olhando cada parte dele com o propósito de
compreender estas verdades.
A) – A verdadeira felicidade produzirá verdadeira
prosperidade.
– A
falsa felicidade produzirá falsa prosperidade.
1) “Bem
aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho
dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (v. 1). Este
primeiro versículo nos apresenta três idéias. Vemos três verbos que são
centrais. (a) “Não anda”; (b) “Não se detém ou não para”.
Literalmente o autor está dizendo: “não para no caminho dos
pecadores”; (c) “Não se assenta”. Estes três verbos, de modo
progressivo, nos mostram exatamente o processo degenerativo daqueles que andam
segundo o curso deste mundo, segundo os valores do mundo. Aqueles que (1)
dão ouvidos aos conselhos dos ímpios em pouco tempo irão (2) parar no
caminho dos pecadores; e (3) em pouco tempo irão se assentar na roda dos
escarnecedores. O processo degenerativo vai se manifestar em cada ato e em cada
momento da vida. Vemos isso quando o salmista diz: “Não anda...não se
detém..., não se assenta...”. Assim o salmista mostra
claramente que estes três verbos revelam o processo degenerativo daqueles que
dão ouvidos aos conselhos dos ímpios, daqueles que que não amam a Deus.
Lembre-se que o texto fala do conselho dos ímpios; da vontade do coração do
homem; da carne; dos pensamentos daqueles que não amam ao Senhor; daqueles que
dão conselhos para a morte. Logo a seguir, os que param para ouvir estes
conselhos, em pouco tempo, vão parar no caminho destes pecadores; em pouco
tempo estarão assentados no mesmo lugar em que eles estão assentados e fazendo
o que eles fazem: escarnecendo e se opondo contra Deus, contra tudo que se
relaciona com a vontade do Senhor. Tudo porque começaram a andar segundo o
coração corrompido.
2) O salmista
começa dizendo que a felicidade está ligada ao não fazer estas coisas –
“Bem aventurado o homem que não...” (v. 1). E o versículo que vai
se contrapor a esta verdade podemos encontrar na adversativa do v. 2: “Antes,
o seu prazer está na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite”.
Vemos que este versículo vai se contrapor a tudo que foi dito antes: “Andar
no conselho dos ímpios...se deter, parar no caminho dos pecadores...; se
assentar no meio dos escarnecedores”. Esta não deve ser nossa prática,
mas devemos ouvir, diz a Palavra de Deus, que nosso prazer está na Lei do
Senhor e que temos de meditar nesta Lei dia e noite. O prazer do crente está em
obedecer às Escrituras Sagradas e nunca dar ouvidos às práticas de homens
ímpios que vivem praticando o que é contrário a vontade de Deus.
Em nossa vida,
estamos sujeitos a seguir caminhos e ouvir conselhos de pessoas que nos dizem o
que é o melhor ou o que é pior. Mas se não forem conselhos pautados na Palavra
de Deus sempre nos levarão a destruição. O salmista diz que eles perecerão!
Aqueles que
andam segundo o caminho dos ímpios precisam entender o nome do Senhor Jesus
Cristo revelado no Velho Testamento: “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte,
Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is. 9:6). “Maravilhoso
Conselheiro”. A Palavra de Deus que nos revela Jesus Cristo, este Conselheiro
Maravilhoso, pela obra do Espírito Santo, nos conduzirá ao entendimento de
que aqueles que são felizes são exatamente os que se anulam, que mortificam o
desejo do seu próprio coração, da sua carne, para obedecer unicamente ao Senhor
e andar segundo Sua Lei.
É interessante
observar que esta introdução é a introdução da vida de muitos homens de Deus no
Antigo Testamento. Vejamos apenas um caso. Quando Deus chama Josué para ser o
líder que vai substituir a Moisés, lhe diz (Josué 1:7-8): “Tão somente sê
forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu
servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a
esquerda, para que sejas bem sucedido por onde quer que andares. Não cesses de
falar deste livro da lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem sucedido” (Levar o povo à Terra
Prometida). Estas palavras lembram muito o Salmo 1. Vejamos que esta “prosperidade”
de Josué, esse sucesso de Josué (“... farás prosperar o teu caminho e
serás bem sucedido”), não está restrita ao aspecto da prosperidade deste
mundo, mas ao sucesso de levar a termo a vontade de Deus; de conduzir o povo à
Terra Prometida segundo a vontade de Deus. Se fizermos o que é a vontade do
Senhor andaremos seguros nos caminhos de Deus, porque esta é a vereda que nos
conduz à verdade; é a Lei do Senhor, é a Palavra do Senhor.
Quando andamos
conforme o conselho dos homens que não temem a Deus nós, rapidamente sucumbiremos
e nos assentaremos na roda daqueles que praticam pecados contra Deus; que
escarnecem do Seu glorioso nome e que se levantam contra Ele. Vejamos que a
questão está aqui posta se contrapondo uma à outra. Uma verdade é seguir o
conselho dos ímpios, a outra é andar segundo a vontade do Senhor revelada na
Sua Palavra. Não é seguir segundo experiências pessoais subjetivas, mas segundo
o que está revelado nas Escrituras. Ela é suficiente.
A prática de
andar segundo os ímpios nos mostra o resultado na última palavra do salmo: “perecerá”.
Os que andam segundo esta prática perecerão. O salmo termina com a afirmação de
que os ímpios “perecerão”, mostrando a conclusão clara, uma inclusão entre o
primeiro versículo e o último. Os que andarem segundo o conselho dos ímpios perecerão!
Mas o v. 2 nos afirma que andar segundo a Lei de Deus é o prazer dos que são
felizes, dos que são bem aventurados e, conseqüentemente, dos que têm a
verdadeira prosperidade e a verdadeira vitória.
Como isto se
manifestará? O salmista usa algumas metáforas que chamam de forma especial a
nossa atenção. Não é simplesmente uma metáfora, mas uma símile, porque há um
comparativo no v. 3: “Ele é como árvore plantada junto a
corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não
murcha”. “Ele” quem? Aquele homem que não anda segundo o
conselho dos ímpios, mas anda segundo a Lei do Senhor; e termina o v. dizendo:
“...e tudo quanto ele faz será bem sucedido”. Vejamos este texto citado
também no livro do profeta Jeremias:
“Assim diz
o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço
e aparta o seu coração do Senhor. Porque será como o arbusto solitário no
deserto e não verá quando vier o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto,
na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no Senhor e cuja
esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que
estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas sua
folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar
fruto. Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17:5-9).
O salmista
coloca na perspectiva da obediência à Lei do Senhor e o profeta Jeremias coloca
na perspectiva de confiar em
Deus. Uns confiam em homens, outros em Deus. Maldito o
homem que põe sua confiança no homem. O salmista diz: “Bem aventurado o
homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”. O profeta diz: “Maldito
o homem que confia no homem”. O que diz o salmista? O salmista diz: “Bem
aventurado (feliz) é aquele que obedece a Lei do Senhor; que faz a vontade do
Senhor”. O profeta Jeremias diz: “Bem aventurado o homem que confia no Senhor;
que tem a esperança no Senhor; que não põe sua esperança em outrem, mas no
Senhor dos exércitos, o Deus todo poderoso!!”. E fazem a mesma comparação com
uma árvore plantada junto a ribeiros de águas. Vejamos que aqui o texto coloca
claramente que haverá sequidão, calor, tempo de estiagem. Ele não diz que os
que estão plantados na Lei, que fazem o que Deus quer, não passarão por estas
coisas, que não sofrerão calor, que não passarão por sequidão, mas, porque as
sua raízes estão dentro da Lei de Deus, porque estão colocadas na Palavra do
Senhor, ou seja, suas raízes estão postas em águas perenes que não param de
jorrar, continuarão dando fruto apesar da sequidão, da angústia e do
sofrimento, porque a Lei do Senhor assim o fará.
B) A Verdadeira felicidade nos
conduzirá ao Prazer Eterno.
A Falsa
felicidade nos conduzirá ao desprazer eterno.
Em sua
continuação, este Salmo 1 mais uma vez, vai fazer um contraste. No primeiro
momento o salmista faz um tipo de trocadilho. No v. 1 ele diz que é bem
aventurado o homem que não pratica tais e tais coisas. Ele se refere ao justo.
Depois diz: O justo ama a Lei do Senhor! Agora ele toma este justo que ama a
Lei e o compara a uma árvore que está plantada junto a ribeiros de águas. Porém
agora o salmista se volta para os ímpios dizendo: “Os ímpios não são assim;
são, porém, como a palha que o vento dispersa” (v. 4).
Esta figura
nos leva a dois princípios básicos.
1) Um tem raízes
(o justo) que recebem água. Aquele que teme a Deus e ama a Lei do
Senhor, e nela medita, é semelhante a uma árvore plantada e cujas raízes se
estendem para dentro de um ribeiro de águas.
2) O outro (o
ímpio), que não teme a Deus, não tem raízes. É semelhante à palha que o
vento dispersa. É semelhante à palha seca do arroz que é levada pelo vento e
vai mudando de lugar para lugar. Não tem sustentação! Os que confiam nos
ímpios; os que confiam na prática e na ética dos pecadores; que não andam
segundo a Lei, mas segundo o coração corrompido, são comparados pelo profeta
Jeremias a alguém com um coração enganoso e desesperadamente corrupto,
incorrigível. Como poderemos forjar nossa prática e nossa religião baseados nas
experiências do nosso coração que é enganoso e corrupto? Como podemos forjar
nossa prática em nossas emoções, em nossas experiências pessoais; será uma
prática, uma religião que não está firmada na Lei do Senhor, na Sua Palavra.
Não podemos deixar que nosso coração seja a base para a nossa religião. Mas
temos de colocar a Lei do Senhor, a verdade revelada na Palavra como a
forjadora da nossa religião, da nossa
prática, de tal maneira que sejamos praticantes destas verdades e não apenas
ouvintes. Obedientes à lei de Deus.
O salmista diz
que “os ímpios não são assim, mas são como a palha que o vento dispersa”,
porque têm sua religiosidade formada no enganoso coração. Como palha eles têm
sua leveza, sua prosperidade, seus benefícios. Isso está muito claro e
perceptível no v. 5 quando o salmista usa o verbo “prevalecer”: “Os
ímpios não prevalecerão no juízo”; literalmente significa que não se
“levantarão” no juízo, ou seja, no dia do juízo eles não serão
vitoriosos, mesmo que aqui neste mundo aparentemente prevaleçam, que ganhem,
que sejam vitoriosos e que tenham sucesso em muitas áreas da vida. Mesmo não
fazendo a vontade de Deus, mesmo que sejam desonestos nos negócios e ganhem muito
dinheiro, aparentemente não têm problemas. Eles não têm crises de consciência
para poder enriquecer. Neste mundo, aparentemente eles prevalecem, ganham, têm
saúde, porém, no dia do juízo final eles não se levantarão, não prevalecerão.
Depois da relação com a vida terrena chegará o dia, diz o salmista, que estes
perversos não irão prevalecer.
Podem ter sido
vitoriosos nesta vida, mas, no final, no último dia, no dia do juízo final,
irão perecer e não prevalecer. A tradução desta palavra, prevalecer,
não é muito feliz porque no hebraico, literalmente, significa levantar-se.
É a mesma palavra usada para Jonas quando Deus diz que ele se levante e
vá para Nínive. É a mesma palavra usada por Cristo, quando fala em aramaico
para aquela jovem que estava morta e diz: “Talita cumi”. Ou seja,
Talita, levanta-te! É o mesmo verbo; a tradução literal seria: “Os
ímpios não se levantarão no dia do juízo”.
Havia uma
prática na cultura judaica que dizia o seguinte: Toda vez que um inferior se
aproximar do seu superior ele deve se prostrar. Jesus conta a parábola de um
homem, de um credor incompassivo (Mt 18) que devia uma fortuna ao rei; quando
ele se aproxima deste rei ele se prostra diante daquele que é seu superior (v.
26) e pede paciência para com ele. Era uma prática judaica. Vemos esta mesma
verdade em Fl 2:10, quando Paulo se refere a Cristo dizendo que todo joelho se
dobrará e toda língua confessará, ou seja, que todos os inferiores se prostrarão
diante do Senhor. Mas, o texto aqui no Salmo 1, diz: “Os ímpios não vão se
levantar” (v.5). Eles se prostrarão, mas não se levantarão; só se
levantarão aqueles que o Senhor os tomar pelas mãos para conduzi-los ao Seu
Reino eterno e provar das delícias da vida eterna, da real prosperidade, de
colher o que plantaram; o tesouro guardado nos céus, a sua herança. Nós não
construímos nada nessa terra, mas o nosso tesouro está guardado nos céus. É uma
herança preparada para nós antes da fundação do mundo.
Os ímpios não
se levantarão no dia do juízo, mas permanecerão prostrados. Porém aqueles que
nesta vida andaram de conformidade com a vontade de Deus se prostrarão, mas o
Senhor os levantará e dirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:34). Entra
no gozo do teu Senhor!
O salmo
continua dizendo no v. 5: “...nem os pecadores na congregação dos justos”.
O que nos chama atenção aqui é a palavra “congregação”; ela vem
de uma raiz que significa “testemunha”; não significa
simplesmente uma reunião de pessoas, porém significa a reunião daqueles que são
verdadeiras testemunhas do Senhor. Isto é, daqueles que obedecem a Lei
de Deus, que andam de conformidade com a vontade do Senhor; daqueles que não
andam segundo o conselho dos ímpios, que não se detém no caminho dos pecadores,
nem se assentam na roda dos escarnecedores; mas são aqueles que testemunham do
Senhor. Não somos testemunhas de nós mesmos. Eu sei que muitos gostam de contar
seus testemunhos, mas a Bíblia diz que devemos ser testemunhas, não de nós
mesmos, mas de Cristo (Atos 1:8); a nossa pregação deve ser um testemunho de
Cristo – pregar Cristo e este crucificado. Sobre esta CONGREGAÇÃO, sobre este
grupo de testemunhas, os ímpios não vão prevalecer.
Aqui o
Salmista, de forma clara e objetiva, vai concluir o texto fazendo a separação
entre um e outro, quando diz:
“O Senhor
conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (v.6).
Nós sabemos o
que significa “perecer”. Significa que aqueles que andaram segundo o
caminho da sua própria vontade e não segundo a vontade de Deus e que viveram
para satisfazer a sua carne, seu coração e seus desejos, estes perecerão no
último dia – serão condenados ao sofrimento eterno, separados do Senhor. Este é
o caminho dos ímpios que os leva a perecer.
Porém, o caminho
dos justos o Senhor conhece. Mas que conhecimento é este? Porque a idéia
parece ser de que Deus conhece algumas coisas e não conhece outras. Ou seja,
conhece o caminho de uns e não de outros. Mas o conhecimento aqui vai muito
além do que simplesmente saber de alguma coisa. “Conhecer” aqui
significa uma relação íntima, profunda, a ponto de significar aqueles que Deus
amou com amor eterno e os escolheu para serem Seus. Vejamos isso no livro de
Amós 3:2:
“De todas
as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos
punirei por todas as vossas iniqüidades”.
Esta palavra,
“escolhi”, usada aqui nesta versão é a mesma palavra usada para “conheci”,
em outras versões. É o mesmo verbo, a mesma raiz. Literalmente seria: “De
todas as famílias da terra, somente a vós outros vos conheci”. Há
momentos em que a palavra conhecer é sinônimo de escolher. Por isso o tradutor
faz o que é óbvio. Porque o que o salmista faz aqui quando afirma “De todas
as famílias da terra, somente a vós outros vos conheci”, ele o faz no
sentido de que conhecer significa:
“somente com vocês eu me relacionei pactualmente; somente a vocês eu me
revelei; eu escolhi somente a vocês!”.
A mesma
verdade encontramos no livro do profeta Jeremias 1:5.
“Antes que
eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da
madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações”.
Não haveria
nenhum problema se a tradução aqui fosse: “Antes que eu te formasse no
ventre materno, eu te escolhi”. Não há dúvida quanto a isso. Então,
quando o salmista diz que “O Senhor conhece o caminho dos justos...”,
está dizendo que este conhecer vai muito além da simples idéia de
saber de algo, mas nos leva à idéia de escolher em amor.
Vamos ver esta verdade não
somente no Velho Testamento, mas também no Novo Testamento. Em Mateus 7:21-23,
Jesus fala da mesma verdade com uma profundidade que nos choca, nos
impressiona:
“Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus”.
Vejamos logo
de início a relação com a obediência à Lei do Senhor.
“Muitos,
naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes
direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniqüidade”.
Vejamos que
aqui, a palavra “conheci”, não deve nos trazer a idéia de que
Jesus não conhecia, ou não sabia quem eles eram, mas nos traz a idéia de que
Jesus afirmou claramente: “Vocês não são meus escolhidos; porque se fossem meus
escolhidos fariam a minha vontade e não apenas diriam “Senhor, Senhor”,
mas obedeceriam a minha vontade; fariam o que está escrito na minha Palavra;
amariam a minha Lei. Vocês me chamam de Senhor, mas não fazem o que vos
mando, não fazem minha vontade; Eu não conheço vocês, não sei quem são vocês,
nunca vos ESCOLHI!”. “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.
Alguém poderia
argumentar de que o v. 6 não está dizendo que o Senhor conhece os justos, mas
conhece o caminho dos justos. A isto respondemos acrescentando que Deus
não apenas escolheu um povo para Si, mas também escolheu o caminho pelo qual
este povo deveria andar. Deus não apenas escolheu a você e a mim, mas nos disse
como deveríamos nos conduzir: Segundo a Sua Lei, a Sua vontade revelada nas
Escrituras e sem acréscimos e diminuições. Não segundo o conselho do mundo, não
segundo os padrões do mundo, não segundo o nosso próprio coração, mas segundo a
Lei do Senhor revelada na Sua Palavra.
O Senhor
conhece o caminho do Seu povo porque Ele escolheu para este povo o caminho que
ele deve andar.
Jesus disse: “Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”
(Mt 16:24). Abandone os seus próprios caminhos, volte-se para a Palavra do
Senhor, abandone os desejos do seu coração que é enganoso e corrupto e obedeça
ao Senhor e viva a Sua Palavra. Aqueles que fazem assim prevalecerão, se
levantarão no dia do juízo e receberão as boas vindas do Juiz e a herança
prometida, o reino eterno; mas os que não fizerem isso, não se levantarão,
serão apartados para o sofrimento eterno.
O Senhor
conhece o caminho daqueles que só Ele escolheu, mas aqueles que andam segundo
seus próprios caminhos perecerão; serão condenados para sempre e viverão
eternamente distantes da presença de Deus sofrendo os terrores do inferno que
merecem.
O Senhor nos
conceda a graça de podermos, como crentes no Senhor Jesus Cristo, obedecermos a
Sua Lei, a Sua Palavra, abandonando a obediência e os desejos do nosso coração,
sempre lembrando que nosso coração é incorrigível, corrupto; não é ele que
forma a nossa religião, a nossa prática de vida, mas a Palavra revelada do
Senhor Deus.
Abandonemos
tudo que não está de acordo com a Lei de Deus e nos voltemos para Ele que é
rico em perdoar e pratiquemos a Sua vontade santa. Isso o Senhor requer de nós,
requer do Seu povo, povo da aliança e por quem deu Sua vida naquela cruz
maldita para fazer-nos um povo separado para Si mesmo, um povo exclusivamente
seu, zeloso de boas obras (Tito 2:14).
Amém.
Pr. Paulo
Brasil
é ministro
Presbiteriano e Prof. de Hebraico e exegese do Velho Testamento no Seminário
Presbiteriano em Teresina, PI.
A Igreja no Velho Testamento
Por Pr.
Paulo Brasil
INTRODUÇÃO
Gostaria de iniciar falando de dois
aspectos visualizados neste tema.
1) Anacronismo
— Este tema é muito importante tendo em vista as circunstâncias que envolvem a
Igreja hoje. Mas pensar neste tema — Igreja no Velho Testamento — para muitos seria
pensar em um anacronismo. Ou seja, usar um termo fora da sua época. Muitos
dizem que Igreja é algo apenas do Novo Testamento. Sendo assim, como poderíamos
falar de Igreja no Velho Testamento? Bem, no meio reformado isso não seria um
problema, mas no meio não reformado esse é um problema muito sério tendo em
vista o entendimento errado que muitos têm ao fazer uma separação entre Igreja
e a nação de Israel. Estes têm dificuldade de encontrar o conceito de Igreja no
Velho Testamento. Essa separação que se faz entre Israel e Igreja é algo
extremamente prejudicial para a visão e unidade da Escritura Sagrada como um
todo.
No entanto, este tema é pertinente e
não anacrônico. Ao contrário, ele é uma expressão fundamental da teologia
reformada e a expressão de sua verdade. Por ser teologia pactual, ela não faz
distinção entre Velho e Novo Testamento no que diz respeito aos conceitos
essenciais, aos símbolos e às cerimônias (abolidas em Cristo e por isso não
praticadas hoje). Os conceitos essenciais da Igreja são vistos no Antigo
Testamento e esperamos nos referir a eles.
2) Este tema é pertinente. Não é um anacronismo, mas
algo que enfrentamos hoje. Como nós lidamos com o Antigo Testamento na Igreja? Temos
encontrado um grande problema com a pregação veterotestamentária em nossas
igrejas. A pregação no Velho Testamento, além de ser escassa por convicções
equivocadas, ela é moralista na sua essência; não é redentiva, não é
regeneradora, mas simplesmente uma exposição moral. Toma-se um texto do VT para
se falar sobre a condenação de determinados pecados e como devemos viver com
base em um padrão. Hoje não se vê na pregação no Velho Testamento a essência da
natureza de Cristo e a obra de unidade que existe entre o Antigo e o Novo
Testamento. Por isso, além de ser um tema dos nossos dias, e não estarmos
usando nada fora do seu contexto, estamos usando um tema extremamente
pertinente.
Certamente os irmãos que têm um
entendimento de Israel distinto de Igreja, rejeitam rapidamente este assunto.
Vamos ouvir o que a Palavra de Deus tem para dizer acerca deste assunto para
que desfrutemos destas maravilhosas verdades redentivas reveladas de forma clara
e essencial no Antigo Testamento.
O
TEMA
Em que lugar na Escritura podemos
afirmar que o povo do Antigo Testamento é chamado de Igreja? É interessante ver
como os irmãos que têm dificuldade com este tema partem de uma hermenêutica
literalista e por isso equivocada. Se não tem a palavra “igreja” com referência
à Israel, então Israel não é igreja, dizem eles. Se não tem a palavra “Israel”
para igreja, então igreja não é o Israel de Deus. Estes irmãos dizem que há
necessidade de se ter uma expressão literal para a tese ser confirmada. Mas temos
de ver a teologia como um todo. Vendo este princípio teológico pelo prisma da
unidade da revelação, podemos abrir as Escrituras em um texto de Atos 7: 38 — “É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que
lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas
para no-las transmitir”. A palavra utilizada no texto — congregação — literalmente é a palavra
grega usada para “Igreja” (eclesia).
Lucas está dizendo aqui no texto o seguinte: “É este Moisés quem esteve na ‘igreja’
no deserto”. É exatamente o que Lucas está dizendo. O princípio é de que a
igreja envolve o povo que se congregava no Antigo Testamento. Sabemos, à luz do
Novo Testamento, que a igreja é formada pelos eleitos de Deus, os escolhidos do
Senhor antes da fundação do mundo e esse povo eleito por Deus é regenerado,
justificado, santificado e vive uma vida corporativa característica de um povo
tirado de rumos distintos para um caminho comum. O Novo Testamento nos dá a visão
muito clara de que os que pertencem à igreja do Senhor são aqueles que foram
salvos regenerados, santificados, convertidos. Se isso, então, é a essência da
igreja, que pessoas foram chamadas por Deus da escravidão do pecado para a
liberdade em Cristo, da morte para a vida para fazer a vontade de Deus, temos que
entender que no Antigo Testamento estas coisas também aconteciam. Será que
apenas a expressão, apenas o entendimento veterotestamentário da vocação de
algumas pessoas e da visão de nação como povo de Deus, seria suficiente para
excluir a idéia de que esta nação não era a nação que, escolhida por Deus,
fosse regenerada, convertida, justificada, santificada para andar nos caminhos
de Deus? Será que é uma visão correta afirmar que pelo fato de se ter uma nação
específica no VT (Israel) temos uma igreja distinta no Novo Testamento onde
povos de todas as raças estão envolvidos no número dos eleitos? Caminhemos para
o seguinte entendimento:
1) Temos de
encontrar no Velho Testamento e na revelação geral das Escrituras a verdade
estabelecida de que o povo do VT cria nas mesmas coisas que nós cremos hoje, no
mesmo Deus e nas mesmas verdades que cremos.
2) Temos de
encontrar no Velho Testamento, em toda revelação do VT que este povo, além de
tudo, não só cria como nós, mas era um povo que esperava nas mesmas promessas
que nós esperamos.
Se não unirmos isso, se não aceitarmos
e compreendermos isso, teremos dificuldades de crer que Israel é a Igreja e que
a Igreja é Israel. À luz deste princípio partimos desta direção entendendo a fé e
a esperança como algo comum ao Velho Testamento e ao Novo Testamento.
Antes de continuarmos, devemos dar uma
explicação. Vamos citar alguns textos do Novo Testamento e muitos poderão
pensar: O irmão vai falar de Igreja no Velho Testamento e, para isso, cita
textos do Novo Testamento? Mas o melhor interprete da Bíblia é ela mesma. Quem
melhor interpreta o Antigo Testamento é a própria Bíblia. Se nos dirigimos ao
NT para entender a interpretação do VT é porque partimos do princípio de que a
verdadeira interpretação do Antigo Testamento está no Novo Testamento.
Hebreus
11:1-3 e 8
“Ora,
a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não
vêem. Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela fé, entendemos
que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio
a existir das coisas que não aparecem” (vss. 1-3).
Temos aqui um conceito
neotestamentário de fé. No v. 1 temos um paralelismo sinonímico. Paralelismo é
uma característica da língua hebraica. Lembramos, porém, que os autores do Novo
Testamento eram judeus na sua maioria e sua estrutura de escrita era obviamente
judaica. Mesmo escrevendo em grego, o pensamento era judaico tanto quanto sua
estrutura de escrita. Por isso temos este paralelismo que é uma forma de dizer a
mesma verdade de forma diferente. O que é fé? “Fé é a certeza de coisas que se esperam”. O que mais é fé? “A convicção de fatos que se não vêem”. O
que é sinônimo aqui? Aqui “certeza” é sinônimo de “convicção”; “coisas que se esperam” é
sinônimo de “fatos que se não vêem”. A fé está firmada não em dúvidas, mas
em certezas, porém não naquilo que se vê. Impressionante! Até porque a própria
raiz da palavra “FÉ”, na língua hebraica, se origina de uma palavra que na sua
base, na sua múltipla utilização como palavra de uma língua, traz a idéia de verdade,
firmeza,
como uma árvore que bem plantada não se abala. Em hebraico a palavra “āman”
de onde provem a palavra “ĕmûnâ” que é “fé” ou “fidelidade” e que vem da mesma raiz,
tem um sentido de algo que está fincado e que não se abala.
A palavra “fé” usada no Velho Testamento
é usada agora no Novo Testamento como aquilo que não se abala e a convicção de
coisas que não podemos ver. Aqui está o grande paradoxo. Percebemos que estamos
diante de uma grande verdade! O autor da carta aos Hebreus nos dá o conceito de
fé. Mas de modo interessante o autor recorre à criação para estabelecer o parâmetro
do que podemos entender como fé e recorre a personagens do Velho Testamento.
Começa falando de Abel e discorre para poder dizer que a fé é a exata convicção
daquilo que não podemos ver. Ele diz que “pela
fé Abel ofereceu mais excelente sacrifício...”. Estabelece-se, então, um
princípio de que Abel já esperava algo que ele não via, mas sabia da sua
existência. Nos parece ser este o princípio pelo fato de que nos vss. 8-10
deste capítulo Abraão vai ser assim também denominado. Está escrito: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a
fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde
ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em
tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava
a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb
11:8-10). Foi dada a Abraão a promessa de entrar numa terra chamada
“prometida”, sendo que esta terra “prometida” não era, na visão de Abraão, o
fim para o qual estavam determinadas todas as coisas. Por quê? Porque segundo o
texto ele aguardava a cidade que Deus
havia edificado. Mas alguém poderia afirmar que no texto não há nada dizendo
que a palavra “cidade” se refere a
uma cidade celestial e que bem poderia estar se referindo a Jerusalém, a cidade
santa. Se alguém não se convence com estes versículos devemos olhar mais à frente.
“Pela
fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado
de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa. Por
isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa como
as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar. Todos
estes morreram na fé, sem ter obtido
as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra“ (vss.11-13).
Vejamos que “estes morreram na fé”, ou seja, morreram crendo “sem ter obtido a promessa”.
“Vendo-as,
porém, de longe, e saudando-as, e
confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam
estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde
saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria
superior, isto é, celestial. Por
isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes
preparou uma cidade” (vss.
13b-16).
A palavra cidade
usada no texto é trazida de volta. Cidade aqui é sinônimo de pátria
celestial. Percebemos que quando estas personagens do Velho Testamento eram
chamadas por Deus, as suas vocações não eram para algo estritamente terreno,
mas para algo superior. A própria terra de Israel nunca foi um fim em si mesmo.
Ela apenas tipificava a pátria celestial. Segundo as palavras do autor da carta
aos Hebreus, quando ele trata no capítulo 4 acerca do dia do Senhor, do dia de
descanso, diz claramente que a terra de Israel não era o descanso que Deus
havia dado a eles; porque se fosse não falaria de “outro dia” — “Ora, se Josué
lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia” (Hb 4:8). E no v. 9 lemos:
“Portanto, resta um repouso para o povo
de Deus”. Aquela cidade tipificava a entrada na pátria celestial. Abraão
chamado por Deus já cria e aguardava, segundo o autor aos Hebreus, uma pátria
superior à terra prometida, pois esta era apenas um tipo e não um fim em si
mesmo. Devemos nos lembrar do conceito estabelecido pelo autor da carta aos
Hebreus que “fé é a certeza de coisas que
se esperam e a convicção de fatos que se não vêem”. Existe fé e esperança estabelecidas no Velho Testamento. Os chamados e
vocacionado por Deus esperavam o mesmo que nós esperamos: a pátria celestial, a
nova Jerusalém. A idéia atual de que, para a nação judaica a terra da Palestina
foi posta como propósito final, é equivocada à luz de toda Escritura Sagrada.
Porque para os filhos de Abraão, os que creram como Abraão creu, eles aguardam
uma pátria celestial, a Nova Jerusalém, a cidade santa. No Velho Testamento a
fé estava estabelecida, os crentes não viam, mas esperavam.
Abraão creu na ressurreição dos
mortos. Os críticos modernos afirmam que a doutrina da ressurreição não está
estabelecida no Velho Testamento. Nos parece que isso é um grande equívoco
porque, quando Jesus foi interpelado pelos saduceus, no Evangelho de Mateus, o
Senhor lhes deu uma resposta. O texto nos fala:
“Naquele
dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e
lhe perguntaram: Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, seu
irmão casará com a viúva e suscitará descendência ao falecido. Ora, havia entre
nós sete irmãos. O primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência,
deixou sua mulher a seu irmão; o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro,
até ao sétimo; depois de todos eles, morreu também a mulher. Portanto, na
ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? Porque todos a desposaram” (Mt
22:23-28).
Jesus respondeu claramente:
“Respondeu-lhes
Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque, na
ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no
céu. E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos
declarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é
Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt 22:29-32).
Jesus fala baseando no texto do Velho
Testamento quando diz que Deus é Deus de vivos e não de mortos. Ele disse: “Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e Jacó”.
Jesus responde à questão dos saduceus, que eram contrários à ressurreição,
citando o Velho Testamento. Certamente que Abraão, Isaque e Jacó já estavam
mortos na época de Cristo. Por que Jesus diz que Deus é Deus de vivos e não de
mortos? Porque eles estão vivos. Jesus disse a Marta: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Mt 11:25). É a mesma fé
estabelecida no Velho Testamento. A fé na ressurreição é estabelecida em
Gênesis no capítulo 22. Deus prova a Abraão:
“Depois
dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu:
Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem
amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos
montes, que eu te mostrarei. Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo
preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu
filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia
indicado. Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe.
Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos
até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós” (Gn 22:1-5).
Estas palavras não eram de alguém que
desejava acalmar aos servos desesperados com a possibilidade da morte de
Isaque, porque eles sabiam o que estava acontecendo. Porém Abraão diz aos
servos “eu e o rapaz iremos até lá e,
havendo adorado, voltaremos para junto de vós”. Temos de atentar para as palavras:
“havendo adorado, voltaremos”.
Vejamos o plural: Nós voltaremos! Ele não disse, eu voltarei. O que significa
isso? Ele cria que se e o menino morresse Deus iria ressuscitá-lo. De onde
tiramos isso? Voltando a Hebreus 11 e veremos claramente esta verdade.
Hebreus
11:17-19
“Pela
fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar
o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha
dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre
os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou”.
Abraão creu que Isaque iria
ressuscitar. É a convicção daquilo que não vemos, é a certeza daquilo que nossos
olhos não vêem, mas é a certeza! Nunca vimos ninguém ressuscitar, mas cremos na
ressurreição dos mortos. O mesmo princípio se aplica a Abrão. Ele nunca tinha
visto ninguém ressuscitar, mas cria na ressurreição. A Igreja no Velho Testamento
cria e estava fundamentada nos mesmos pilares que se fundamenta a Igreja do
Novo Testamento. Nós cremos e esperamos naquilo que não vemos!
Esse princípio da fé precisa ser melhor
entendido. Como surgia a fé no Velho Testamento? Temos de mencionar agora uma
doutrina perniciosa presente na igreja de hoje: O Dispensacionalismo. Através
da tradição dispensacionalista teremos profunda dificuldade de olhar para o Velho
Testamento e ver a conversão da mesma forma como a vemos no Novo Testamento. Para
o dispensacionalismo o homem do Velho Testamento tinha uma estrutura diferente
do homem no Novo Testamento. Se o homem do VT pudesse se arrepender sem a ação
do Espírito Santo, então para que o Pentecostes? Não havia necessidade de
Espírito Santo, pois o arrependimento seria algo humano. É óbvio que toda e
qualquer ação de caráter regenerativo, salvífico, era operado pelo Espírito
Santo de Deus para que eles acreditassem.
Voltando ao texto que fala de Abel em
Hebreus 11:4, vemos que ele ofereceu sacrifício a Deus pela fé. Se entendermos
que o sacrifício oferecido por Abel foi através de uma fé distinta, diferente,
não sendo pelo que lhe fora revelado, então, semelhantemente teremos de entender
que a fé de Abraão não foi depositada no que lhe foi revelado. Mas o texto diz
que Abraão creu. A mesma fé que Abraão teve é a mesma que Abel teve. É a mesma
estrutura. E todos os eleitos têm esta mesma fé que é a mesma fé do povo de
Deus na história, no VT ou no NT. Fé implica numa revelação de Deus. Só podemos
crer naquilo que nos é revelado pela Palavra de Deus.
Em Hebreus 4:1-3, lemos:
“Temamos,
portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus,
suceda parecer que algum de vós tenha falhado. Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles;
mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada
pela fé naqueles que a ouviram.Nós, porém, que cremos, entramos no descanso...”.
No v. 2 destacamos: “Porque também a nós foram anunciadas as
boas-novas”. “Também a nós”! Quem são “nós” aqui? São os crentes da antiga
aliança, os crentes do Velho Testamento. Da mesma forma como aconteceu conosco,
aconteceu com eles A eles foram anunciadas as BOAS NOVAS! O EVANGELHO! Que
coisa maravilhosa! O Evangelho, as Boas Novas, foram anunciadas aos crentes da
antiga aliança.
É necessário um comentário. Qual a
distinção do Novo para o Velho Testamento? Não há distinção essencial, mas há distinção
da relação entre aquilo que é figura, entre aquilo que é símbolo e o que é
simbolizado; entre o que é tipo e o que é tipificado. Os crentes do Velho Testamento
eram salvos pela revelação de Deus, objetiva
e subjetiva (iluminação). Vemos
isso com o grande teólogo reformado Dr. Geerhardus Vos no seu livro Teologia
Bíblica (Biblical Theology) que é um
livro extraordinário. Dr. Vos coloca o princípio da revelação assim: A
revelação é objetiva e subjetiva.
Revelação
Objetiva e Subjetiva (Iluminação[i]).
Revelação objetiva
são os atos
históricos de Deus ,
manifestados na própria história . Isto
é, cada ato
revelacional implica em um ato histórico . Exemplo :
Jesus veio a este
mundo . Isso
é um ato
histórico . Esta é uma revelação objetiva .
Revelação subjetiva (Iluminação) é a revelação histórico-objetiva que
é trazida ao entendimento do indivíduo , a regeneração ,
conversão . O que
permanece hoje é a iluminação , pois a revelação objetiva cessou, pois
não existe mais
revelação histórica .
Ela se encerrou com
o Cânon. O que temos hoje é a iluminação que é trazida ao homem
por meio
da pregação histórico-objetiva de Deus que
continua sendo proclamada e salvando o povo
na história . Como
Deus fez no Antigo
Testamento , fez também
no Novo Testamento
e durante toda
a história . O Velho
Testamento junto
com seus
atos históricos
não apenas
revelava Deus historicamente (objetivamente ), mas
revelava Deus subjetivamente
a um povo
que Ele
mesmo estava salvando. Paralela à idéia
da revelação , está a idéia de conversão
e salvação — Deus se revelava para redimir .
Pensando dessa forma, cada momento da
história, como a Páscoa, a circuncisão, o tabernáculo, o templo, enfim, todos
estes elementos históricos que foram realidades no VT, traziam consigo a vontade
revelada de Deus, a revelação redentora de Deus salvando um povo que continuada
e organicamente passava a conhecer a salvação. A Confissão de Fé de Westminster
diz que aquela revelação era suficiente para salvar os eleitos de Deus no Velho
Testamento. Dr. Geerhardus Vos se apodera deste ensino da Confissão para dizer
que esta revelação era perfeita, não porque não precisasse de outra revelação
para dar-lhe luz, mas porque aquela revelação estava ligada organicamente com
aquele que era o centro de toda revelação de Deus, Jesus Cristo. Por isso, não
temos medo de dizer, à luz de toda a Escritura Sagrada, que a fé que Abraão
tinha, nós também a temos porque o mesmo Espírito opera em nós. A esperança que
ele tinha nós a temos porque ouviu a mesma verdade — as boas novas do
Evangelho.
Gálatas
3:6
“É
o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura
previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a
Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são
abençoados com o crente Abraão”.
Foi trazida a revelação de Deus — O
Evangelho foi preanunciado. Isso é impressionante. Paulo enfrentava problemas
na igreja da Galácia e estes problemas eram relacionados com a questão das
obras que eram enfatizadas para a salvação. Então, Paulo se fundamenta em
Abraão para dizer: “tendo a Escritura
previsto que Deus justificaria pela fé
os gentios”. Deus, para justificar pela fé, preanunciou o Evangelho, isto é
anunciou o Evangelho a Abraão! Para que houvesse justificação pela fé foi
necessária a revelação do Evangelho que começou a ser pregado de modo
inequívoco desde o início da história da revelação. E os que criam eram salvos,
pois criam nas mesmas verdades, esperavam nas mesmas promessas, tinham a mesma
esperança. Eles criam na ressurreição como nós cremos, aguardavam uma pátria
celestial como nós aguardamos.
A Igreja no Velho Testamento é
fundamentada no conceito da unidade de toda a Escritura Sagrada. Conseqüentemente
é importante saber que a obra da regeneração no Novo Testamento se deu, não com
uma raça, não com um povo étnico, não com descendentes carnais, mas com os da
fé. Então, a quem Deus revelou a verdade, a quem Deus deu o dom da fé, a quem
deu a verdadeira esperança, e a mesma crença que é nossa? Paulo responde a esta
pergunta em Romanos 11:1-5
Romanos
11:1-5
“Pergunto,
pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu
também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não
rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a
Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel,
dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei,
e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei
para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim,
pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a
eleição da graça”.
A questão que Paulo levanta é simples.
Deus rejeitou Seu povo? Não, de modo algum. Por quê? “Eu não sou israelita e
fui salvo”. Agora Paulo dá o conceito para colocar no tudo prumo certo. Antes
estava estabelecido o conceito de que Israel era o povo eleito apenas como
nação, como raça. Mas Paulo diz que isso é agora um equívoco. Quem é o verdadeiro
israelita? Não é simplesmente o que nasce em Israel. Paulo agora se refere
tanto ao povo do VT quanto ao do NT e diz que ambos estavam na mesma situação e
afirma: “no tempo de hoje, sobrevive um
remanescente segundo a eleição da graça”. Isto é, assim como foi no Antigo
Testamento, é agora no novo. Nada mudou! É a mesma coisa. No Antigo Testamento
haviam os eleitos segundo a graça de Deus. Não era porque nasciam em Israel que
eles eram salvos, pois haviam os eleitos dentre Israel. Por isso Paulo cita
Elias que dissera: “Senhor, eu estou só!”. Mas Deus lhe diz: “Nada disso, Eu
reservei para mim sete mil homens”. Ou seja, “Eu reservei para mim os que são
fiéis. Dentro desta nação existem sete mil que não se dobraram diante de Baal”.
E Paulo conclui dizendo que é assim também hoje que vive um remanescente
segundo a eleição da graça.
Como foi no Antigo Testamento, é assim
agora no Novo Testamento, pois os eleitos são salvos pela graça. E esses
eleitos são salvos através da revelação da verdade. E essa revelação é dada aos
que recebem o dom da fé, fé que leva à esperança. A Igreja do Antigo Testamento
é o povo de Deus do Novo Testamento. Somos salvos porque fomos escolhidos por
Deus antes da fundação do mundo, assim como os crentes do Antigo Testamento o
foram. Fomos salvos porque a nós foi revelada a palavra objetivo-histórica de
Deus e nós cremos tanto quanto eles creram nesta palavra revelada. Eles
esperavam a pátria celestial e nós também esperamos. Eles criam na ressurreição
e nós também cremos. Os crentes do Velho e do Novo Testamento historicamente
receberam os mesmos benefícios.
A Igreja eleita do Antigo Testamento
recebeu a revelação, creu e, com fé, esperou. Nós que somos a igreja do Novo
Testamento somos exatamente a mesma coisa hoje. A igreja existia no Antigo
Testamento.
Implicações
Quais as implicações desta verdade
para nossa vida?
1) Uma palavra
aos pastores e à liderança. Aos pregadores da Palavra que desejam cada dia
aprender mais da Escritura se fazem necessárias algumas mudanças. Abandonem a
pregação apenas moralista do Antigo Testamento e preguem a redenção que lá
está. Pregue Cristo no Antigo Testamento! Exalte o nome de Cristo no Antigo
Testamento! Exalte o Cristo que operou no povo do Velho Testamento da mesma
forma como faz hoje, pelo Seu Espírito. Ao Ministro da Palavra dizemos que ele abandone
a pregação apenas moralista no VT como é comum em nossos dias. Pregue a ética
que provém da doutrina, mas não moralismo. Terá de evitar a visão
dispensacionalista que afirma que o Antigo Testamento apenas serve de exemplo
para nós. Errado! O Antigo Testamento é muito mais profundo que isso. É a
revelação da redenção histórica de Deus.
Para os pastores e pregadores do
Evangelho essa será a primeira e fundamental mudança que ocorrerá em suas
vidas.
2) A liderança
da igreja terá de buscar o entendimento da unidade em toda a Escritura Sagrada.
Há muito tempo nós brasileiros trabalhamos contra isso. Na ignorância
acreditávamos em uma separação entre Israel e Igreja, e, mesmo não sendo de
fato dispensacionalistas, vivíamos recebendo grande quantidade de idéias
dispensacionalistas na nossa teologia. Dessa forma não conseguíamos ver a
unidade da Escritura. Tenho de dizer algo duro, mas que é a verdade. O pastor
verdadeiramente reformado, presbiteriano, que não é pactual, está equivocado ao
ficar contra suas convicções. Pastores e líderes que não crêem em um único
pacto, o pacto da graça (após a queda), que não crer nessa unidade da
Escritura, naturalmente vai trabalhar de modo a fazer um desserviço no ensino
da Igreja.
Por isso a grande importância de
falarmos sobre a circuncisão, batismo infantil, a páscoa, a ceia do Senhor, o
templo e seu lugar no Novo Testamento, para podermos entender que dentro da
doutrina da unidade escriturística existe um processo de entendimento e que a
simbologia do VT foi trazida à plenitude no NT. Não é que o foco tenha sido
mudado, não, mas é que chegamos ao ápice — Cristo — e quando temos a unidade,
esse pensamento que apresentamos aqui, nos fará ver a Escritura como uma única
verdade. Veremos como uma unidade.
O pastor que deseja se aprofundar na
doutrina, como pregador, deverá mostrar que na redenção haverá mudança de vida
e necessidade de obediência à Lei. Os pastores aprenderão que, depois de
redimidos, nós amamos a Lei.
3) O crente
desejoso de aprender mais profundamente a doutrina, verá que ele é salvo não
pela obediência à Lei, mas pela graça de Deus. Isso trará uma grande mudança na
vida da igreja, porque tanto no VT como no NT temos uma mesma mensagem:
justificação pela fé somente e não por obras.
O texto de Gálatas claramente diz que
“tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão”. Que
Evangelho? O Evangelho da justificação pela fé somente. Essa foi a mesma
verdade da Igreja do Velho Testamento e que está estabelecida na Igreja do Novo
Testamento. A Igreja de hoje vai ter de rever seu enfoque, sua perspectiva e
seus conceitos serão aprofundados quando retornar à posição confessional, o que
talvez nunca tenha conhecido: A Confissão de Fé de Westmister. Digo isso com
muita seriedade. Fiz meu bacharelado em teologia em um Seminário Presbiteriano
e nunca estudei nossos símbolos de Fé. A liderança presbiteriana está, com
algumas exceções, ignorante da sua confessionalidade, do seu conhecimento
doutrinário sobre a Igreja. Por isso, a melhor palavra que se adequa à nossa
situação não é “retornar” e sim “começar” a nossa eclesiologia de forma bíblica
e reformada. Vamos aos nossos símbolos de fé e veremos que lá estão
estabelecidos estes princípios que expusemos aqui. A doutrina do Pacto, a
doutrina clara e inequívoca de que os crentes do VT eram salvos pela revelação
graciosa de Deus tanto quanto os crentes do Novo Testamento. Veremos que a
distinção que apenas fazemos é que no Velho Testamento o evangelho era visto
através de uma revelação manifesta nos símbolos e tipos, porém eram perfeitos
porque estavam conectados à Cristo.
Dessa forma vamos perceber com temor e
piedade diante de Deus, a mudança que estas verdades acarretarão à vida da
Igreja de hoje. Isso se faz necessário: abandonarmos os erros e nos apegarmos à
verdade.
Amém.
Palestra
proferida pelo Prof. Paulo Brasil no SIMPÓSIO REGIONAL OS PURITANOS em
Recife/fevereiro/2006
[i] Usamos
esta expressão para evitar que se pense que estamos defendendo revelação
extraordinária hoje.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
A Suficiência de Cristo
Por Pr. Paulo Brasil
Is.
59:16-17
“Viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um
intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua
própria justiça o susteve. Vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o
capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se
cobriu de zelo, como de um manto”.
Por que somente Cristo e não outro pode trazer a
salvação à humanidade?
Temos visto, na nossa modernidade, e na nossa
teologia contemporânea, uma grande mudança no evangelho quando se fala de
salvação. Muitos apresentam Cristo como Salvador, mas muitos que dizem vir a
Cristo, não têm a consciência clara do pecado; do horror do pecado; do nojo do
pecado. Por isso vêm a Cristo sem muita convicção do que na verdade são. Alguns
vêm a Cristo alegremente e com sorriso nos lábios, sem a mínima consciência do
pecado que as escravizam. Isso parece não ser culpa apenas destes que assim
vêm, mas também daquele que expõe este novo evangelho que não é bíblico. Quando
entendemos que o evangelho é de graça, percebemos que não é verdadeira aquela
idéia de que o mesmo tem pouco valor, mas é de graça porque não posso nunca,
com minhas próprias forças, pagar algo em troca da minha salvação. A diferença
é radical. Essa idéia de que é fácil ser salvo e por isso tem pouco valor, vem
do contexto moderno capitalista, equivocado, de que o que é de graça, no mínimo
nos faz ficar desconfiado de que não vale muito; mas o evangelho, ao contrário,
é de graça, exatamente porque vale muito, vale tanto, visto que nada podemos
fazer para pagar por ele.
Daí se vê a impossibilidade de alguém vir a Cristo
sem primeiramente se humilhar, quebrantar o coração, colocar a boca no pó,
entender que é um verme diante da santidade augusta de Deus e que precisa
desesperadamente dEle. Foi assim o caminho de todos os homens que provaram a
salvação: quebrantamento, convicção de pecado e de miséria. Porque quando
conheceram a verdade da salvação entenderam que não eram nada e necessitavam da
misericórdia de Deus.
Usamos este texto do VT porque há muita
dificuldade na igreja de hoje de se pregar sobre o textos do VT como se fosse
um peso histórico sobre as costas da Igreja e que ela precisa carregar. O VT,
assim como o NT, é permeado de graça. Depois da queda, ninguém foi salvo por
obediência à Lei, mas pela graça de Deus. Dessa forma, se percebe que no VT,
também a graça é evidente, tanto é que aqui no VT, neste texto, está sendo
exposta uma doutrina que vai ser refletida por Paulo e pelo próprio Senhor
Jesus Cristo.
Neste texto de Isaías já podemos ter a compreensão
desta obra eficaz de Cristo. No versículo anterior, (v. 15) podemos ler: “Sim, a verdade sumiu, e quem se desvia do mal é tratado como presa. O
SENHOR viu isso e desaprovou o não haver justiça. Viu que não havia ajudador
algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor (v.16)”. Por que será que Deus se
maravilhou de não haver um intercessor? Quem será a figura deste intercessor?
Por acaso não haveria alguém que tivesse piedade, em Israel, que orasse a Deus,
que buscasse a Deus; ninguém que fosse um intercessor? Por que Deus afirma que
não havia um só intercessor? Porque nos termos da intercessão a que Ele se
referia e exigia, somente alguém especial e que fosse perfeito poderia exercer
e executar esta função.
Em Isaías 53.6
lemos:
“Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR
fez cair sobre ele a iniqüidade de
nós todos”.
Sem dúvida vemos
aqui um texto que está se referindo a Cristo: “Andávamos desgarrados como ovelhas;... mas O Senhor fez cair sobre
ele...”. “Ele” quem? Jesus
Cristo! A iniquidade de quem? De todos nós! O que isto tem a ver com
intercessão? Em português não podemos ter a noção correta. A palavra “intercessor” em Is 59:16, tem a mesma
raiz da palavra usada aqui para a expressão “fez cair” (Is 53:6). Na verdade é a mesma palavra. A iniquidade de
todos nós caiu sobre Ele; Deus “fez cair”,
fez convergir sobre Jesus. A palavra “intercessão”
é a mesma palavra para a expressão “fez
cair sobre ele”. Por que Ele não encontrou intercessor? Temos que ir para
Is. 53:12 – “...contudo levou sobre si o
pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu”.
Em Is. 59:16-17, percebemos que o intercessor só
poderia ser alguém que fosse perfeito e que levasse sobre si a culpa dos
transgressores. Que relação existe entre o “fazer cair”e a “intercessão”? Por
que Deus, mesmo inspirando a Isaías, não o fez escrever a palavra “intercessão”
no v. 6 e não o fez escrever a expressão “fazer cair” no v. 12?
É simples. O próprio Jesus nos explica em João,
quando faz a oração sacerdotal (cap. 17). “É
por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque
são teus” (João 17:9). Eu rogo por aqueles por quem realizei a expiação: Os
que Tu me deste! Agora fica claro o porque a intercessão é uma obra posterior à
própria expiação. O único que poderia interceder por nós era aquele que tivesse
as condições de “levar sobre si” a
nossa iniqüidade. O intercessor que não tivesse esta condição de levar sobre si
nosso pecado, não seria um intercessor aceitável por Deus. “...maravilhou-se de que não houvesse um
intercessor...”. Por isso, no v. 6 de Is 53 lemos: “...o Senhor fez cair sobre ele...”. Todas as iniqüidades foram lançadas
sobre Cristo e depois que tudo veio sobre Ele, então intercede por todos os
transgressores eleitos. Foi pelos eleitos, tanto é que Jesus afirma na sua
oração que não roga pelo mundo mas por aqueles que o Pai lhe dera (Jo 17:9).
Ele intercede por aqueles pelos quais morreu.
Por isso é impossível haver salvação fora de
Cristo. Porque, para que o homem se apresente diante de Deus ele terá de ser
representado, de ter um representante. Muitas vezes negamos a Cristo e queremos
ser nossos próprios representantes; nós mesmos nos representamos dizendo: as
minhas obras podem me trazer salvação. Mas se nos achegarmos diante de Deus com
o que fazemos, seremos destruídos, porque Ele é justiça santa.
Ao entender isso, podemos mostrar o “lado
negativo” no que diz respeito à impotência humana e a aplicabilidade desta
verdade à vida do homem pecador.
Se olharmos para Is. 59 percebemos que os
versículos 16-17 praticamente estão concluindo o capítulo. Este capítulo é
excelente para se expor porque é um texto progressivo, onde as idéias são
progressivas; vemos que as idéias vão surgindo no texto com naturalidade. Por
isso começamos quase pelo fim, porque agora podemos mostrar a perfeição da obra
de Cristo e a impossibilidade das nossas próprias obras nos salvarem. Assim
entenderemos porque só Ele é SUFICIENTE para a nossa salvação.
Primeiramente, no início do capítulo, Isaías diz
que o pecado traz separação entre os homens e Deus (v. 2). Muitos acham que
pessoas que estão doentes ou com problemas, têm tudo isso como um sinal de que
Deus as desamparou, ou que estão em pecado ou coisas dessa natureza. A Bíblia
nunca diz isso, pelo contrário, se lermos Romanos 8, veremos o oposto disso,
quando o apóstolo Paulo diz que: “Porque eu estou bem certo de que nem
a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do
presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem
qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor”
(Romanos 8:38-39). Essas coisas não nos separam de Deus, mas o pecado sim. Este
nos separa de Deus.
Mas que pecado é
este? É verdade que todo pecado nos separa de Deus, em certo sentido, mas o
pecado ao qual nos referimos aqui é o pecado daqueles que ainda não foram
justificados por Cristo. Esse pecado com certeza separa o homem de Deus. Ela
pode até receber benefícios, bênçãos materiais, sem que tenha compromisso algum
com Deus. Não é por receber bênçãos de Deus que o homem é de fato seu servo.
Uma coisa é Deus fazer o que o homem precisa, a outra, é o homem fazer o que
Deus pede. Só fazem a vontade de Deus aqueles que Lhe pertencem. O fato de
pessoas incrédulas receberem benefícios de Deus é explicado pela doutrina
reformada da chamada “graça comum” que está estabelecida no mundo. Não só traz
bênçãos, mas refreia o mal no mundo. O sol nasce sobre maus e bons, a chuva cai
sobre justos e injustos. Não há como negarmos o fato de pessoas que negam a
Deus possam ser saudáveis, bem de vida financeiramente, às vezes, mais do que
aquelas que Lhe servem. Pois este não é o parâmetro da salvação.
Mas os que foram
purificados de todo pecado, estes estão unidos de maneira indissolúvel com Ele.
E até os pecados que são cometidos após esta união são perdoados quando
confessados a Deus e a volta à alegria da salvação é restabelecida. Essa
separação de Deus do homem é causada pelo pecado que causa um abismo. Só que
este pecado tornou-se imenso, gigantesco, pelo fato de ser Deus tremendamente
santo e nós miseráveis pecadores. O pecado formou um abismo gigantesco de
separação, porque Deus é santíssimo e não pode aceitar o pecado, não pode
compactuar com aqueles que o praticam. Mas o homem que estava dentro deste
abismo tentou algumas formas criativas com o propósito de voltar-se para Deus,
buscou trilhar caminhos de volta para Deus e Deus rejeitou. Dessa forma
entendemos o porque Isaías diz no cap. 59:16 que Deus “...maravilhou-se
de que não houvesse um intercessor...”.
É como se Deus estivesse contemplando os homens
como lhe é peculiar, e visse os homens fazendo alguma coisa que achavam poderia
ser boa o suficiente para aproximá-los dEle, mas jamais conseguindo.
No versículo 3 e 4 lemos: “Porque as vossas mãos
estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos, de iniqüidade; os vossos
lábios falam mentiras, e a vossa língua profere maldade. Ninguém há que clame
pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é
nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniqüidade” (Isaías 59:3-4). As mãos e os dedos
estão contaminados. A mão que serve para realizar coisas, para o trabalho, para
realização de obras, se estiver contaminada de iniqüidade não pode realizar
alguma coisa agradável a Deus. É impureza! Isso mesmo Isaías diz no capítulo
64:6 – “Mas todos nós somos como o
imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia”. O texto não
diz que são as nossas injustiças, nossos pecados, que são trapo da imundícia
mas as nossas obras de justiça. Por que? A resposta está em Isaías 59 quando
ele diz que as mãos estão contaminadas pelo pecado e tudo que se fizer com
estas mãos, para conseguir salvação, levará, ao contrário, para a condenação. O
homem está contaminado.
Voltando para o
cap. 59:6, De forma explícita vemos isso nas palavras de Isaías em 59:6 – “As suas teias não se prestam para vestes, os
homens não poderão cobrir-se com o que eles fazem, as obras deles são obras de
iniqüidade, obra de violência há nas suas mãos”. Eles não podem cobrir-se
com o que fazem. É como alguém que deita em uma cama de criança e lhe é dada
uma coberta de criança. Ou os pés ficam cobertos mas a cabeça descoberta, ou a
cabeça coberta e os pés descobertos. É isto o que o texto está dizendo. O que
nós fazemos com nossas mãos não serve para vestir-nos, para cobrir-nos. Quando
achamos que somos salvos por nossas obras, estamos deitando em uma cama de
criança e nos cobrindo com um lençol de criança – não serve para vestir, “não se prestam para vestes, os homens não
poderão cobrir-se com o que eles fazem, as obras deles são obras de iniqüidade”.
Não podemos nos cobrir, não podemos nos proteger com nossas obras. É impossível
para um homem cobrir-se com aquilo que faz. Esta é a característica de um homem
que tenta se salvar com aquilo que faz, com seus esforços próprios, com suas
obras de justiça, com sua justiça própria. Este não consegue se cobrir.
A Palavra diz
que estas pessoas “Desconhecem o caminho
da paz, nem há justiça nos seus passos;
fizeram para si veredas tortuosas; quem andar por elas não conhece a
paz. Por isso está longe o juízo e a justiça não nos alcança; esperamos pela
luz, e eis que há só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão”
(59:8-9). Literalmente “veredas tortuosas”
significa “caminhos de pedra”; ou seja, um atalho. Os homens tentam fazer
atalhos e quem anda por esses atalhos não conhece a paz. Que caminho é esse?
Que atalho é esse? O de suas próprias obras. A salvação tornou-se impossível ao
homem pelo que ele é ou pelo que ele faz.
Por isso Deus
olha e diz: “Não há um intercessor suficiente!” E diz o texto que Ele mesmo,
com “seu próprio braço lhe trouxe a
salvação e a sua própria justiça o susteve” (v. 16). Foi Deus que com Seu
braço forte nos trouxe a salvação e com Sua própria justiça nos susteve. Isso
fica claro agora. Por que Deus teve de nos trazer a salvação? Por que o homem
não é suficiente em si mesmo, ele precisa da obra do próprio Deus. Trilharam
caminhos para si mesmos, mas Deus disse que estes caminhos conduzem à morte. O
caminho é o que Deus mesmo traçou.
No v. 17 vemos
um verbo muito interessante: “vestir”. “Vestiu-se
de justiça”. Este verbo é literalmente a mesma palavra usada no v. 6: “As suas teias não se prestam para vestes...”. Em outras palavras,
Deus mesmo teve de se vestir, porque as vestimentas que os homens fazem não
servem para vesti-los. Por isso Ele mesmo teve de se vestir para poder trazer a
salvação aos homens. Diz a Palavra no v. 17 que Ele “vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação
na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança, e se cobriu de zelo como de um
manto”. Paulo em Efésios 6 quando fala do combate do cristão, está se
lembrando deste texto, estava se lembrando da grandeza do próprio Deus que se
vestiu com a couraça da justiça, que colocou o capacete da salvação e que tomou
sobre si a vestidura da ira de Deus e se cobriu do zelo do Senhor. Paulo estava
se referindo à obra do próprio Deus que veio trazer salvação aos homens
perdidos e inabilitados para realizar Sua própria salvação.
Agora afirmamos
que nós só poderemos ser salvos pela suficiência de Cristo, da Sua obra mais
que suficiente. Ninguém encontrará a verdadeira salvação se não encontrar o
verdadeiro Salvador: Jesus Cristo vestido de justiça – obra da Sua humilhação.
Sobre Ele caiu a justiça de Deus e Ele nos cobriu com Sua justiça e nos tirou
da situação vergonhosa de despidos de justiça – obra de humilhação.
Devemos nos
apresentar diante de Deus dizendo: “Não tenho nada para te oferecer, tem
piedade de mim miserável pecador. Ho, Senhor, Tu que estás vestido de majestade
e glória, que és poderoso para resgatar-me das trevas, dá-me Tua salvação”.
Despidos de toda vaidade, soberba, presunção e justiça própria, nos
apresentaremos a Ele dizendo: “Eu dependo da Tua justiça; quero ser salvo pela
Tua justiça, quero ser declarado justo pela Tua justiça”. Assim encontraremos
salvação.
Para finalizar
temos de ver o v. 21: “Quanto a mim, esta
é a minha aliança com eles, diz o Senhor; o meu Espírito, que está sobre ti, e
as minhas palavras, que pus na tua boca, não se apartarão dela, nem de teus filhos,
nem da dos filhos de teus filhos, não se apartarão desde agora e para todo o
sempre, diz o Senhor”.
Sabe qual é a
nossa esperança? Sabe por que podemos nos prender a este texto? Porque ele
termina dizendo: “...diz o Senhor”. Se Ele diz, vai
acontecer e acontece. Ninguém pode se interpor entre o que Ele diz e o que
fará.
Em Isaías 46:11
Ele diz: “Eu o disse, eu também o
cumprirei; tomei este propósito, também o executarei”. Eu fiz um plano e o
executarei. Podemos nos agarrar a estas verdades sabendo que vamos até o fim,
porque aquele que nos deu a salvação a susterá, a manterá. E ao que não O
conhece ainda, o caminho é o da súplica, do rogo, do clamor. Ponha o rosto no
pó e peça que Deus tenha compaixão e que o Espírito do Senhor possa convencê-lo
do seu pecado e fazê-lo vir a Ele suplicando por piedade porque é um perdido
pecador.
Faça isso e verá
a glória de Deus.
Amém!
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